A fábula do beija-flor
Luiz Maia
Lembra da fábula do beija-flor? Aquele que tentou apagar um incêndio na floresta levando gotinhas de água em seu bico? Pois bem, o beija-flor morreu queimado! Às vezes penso que o sonho acabou, que nada fará com que as autoridades reformulem a forma de agir ou de pensar. Imaginar um país decente e próspero, justo para todos, deve ser mesmo bom mas às vezes pode ser frustrante, quando a realidade permanece tão longe do desejado.Se não vejamos a falta de seriedade que há num país que tem tudo para dar certo, mas que se ressente da ausência de verdadeiros estadistas. Muitos brasileiros, que se encontram magoados pela vida que levam, questionam se realmente vale a pena sonhar. É que a desilusão por que já passaram os impede de tentar erguer seus castelos. Eles sabem que, em um país que não oferece a mínima estrutura, o inesperado em breve fará ruir por terra toda a esperença por anos acalentada.
Relembro
o fato de o Brasil ser conhecido como "o país do futuro".
Este refrão, no nosso entender, parece destinar ao país
a credencial de eterno fatalismo. Em parte isso pode explicar a falta
de planejamento nos vários governos, a médio e longo
prazos. Enquanto isso o país segue dividido entre dois mundos:
primeiro é o de um Brasil moderno, apresentando uma população
que desfruta de ótimos indíces de desenvolvimento
humano, cerca de 10% das pessoas. Por outro lado existe um
Brasil real, cuja maioria da população sofre todo tipo
de infortúnios, recebendo das autoridades a prestação
dos serviços básicos sem a qualidade mínima para
conferir dignidade ao ser humano. A cada ano a Receita Federal do
Brasil bate recordes de arrecadação, mas ninguém
entende a razão de tanto desleixo com a aplicação
das verbas para a educação e a saúde públicas,
por exemplo.
Com
relação à educação, a qualidade
vem caindo nos últimos anos e muitos estudantes simplesmente
desistem de continuar frequentando as salas de aula. Quem tem
dinheiro desfruta de boas escolas e de ótimo atendimento
médico, igualando-se aos melhores do mundo. Quem não
dispõe de condições financeiras está
sujeito a ver seus filhos tornarem-se analfabetos funcionais, ou ver
um familiar seu morrer nas intermináveis filas de espera para
tratamento da saúde, situação
constrangedora de causar vergonha. São
hospitais sucateados, prédios vazios, ambulâncias
quebradas, faltam médicos e um corpo de auxiliares eficientes.
Chegou-se ao cúmulo de faltar gase e algodão nas
emergências. O povo sabe que não tem o direito de ficar
doente, pois em matéria de saúde pública o
abandono é total. Este descompasso entre dois países é
a causa da humilhação porque passam milhões de
brasileiros que estão expostos à negligência do
falido sistema SUS, ou de uma pseudo educação que não
consegue formar ninguém.
ooo